Dia da Mulher
- Juliana Miyasaka

- 8 de mar. de 2021
- 4 min de leitura

Provavelmente você já ouviu que hoje comemoramos o Dia Internacional da Mulher devido a um protesto das trabalhadoras de vestuário em Nova York em 1857. Mas não é bem assim; pesquisadores descreveram isso como um mito criado para “separar o dia internacional da mulher de sua história soviética a fim de dar-lhe uma origem mais internacional”.
Em agosto de 1910, uma Conferência Internacional de Mulheres Socialistas foi organizada para preceder a união geral da Segunda Internacional Socialista em Copenhagen.
Propuseram o estabelecimento de um “Dia da Mulher” anual, embora nenhuma data tenha sido especificada nessa conferência. Delegadas (100 mulheres de 17 países) concordaram com a ideia como uma estratégia para promover a igualdade de direitos, incluindo o sufrágio para as mulheres.
No ano seguinte, em 19 de março de 1911, o Dia Internacional da Mulher foi comemorado pela primeira vez, por mais de um milhão de pessoas na Áustria, Dinamarca, Alemanha e Suíça.
Em Viena, mulheres desfilaram na Ringstrasse e carregaram faixas em homenagem aos mártires da Comuna de Paris. As mulheres exigiam que tivessem o direito de votar e ocupar cargos públicos. Também protestaram contra a discriminação sexual no emprego.
Em 8 de março de 1917, na capital do Império Russo, as trabalhadoras têxteis iniciaram uma manifestação, percorrendo toda a cidade. Isso marcou o início da Revolução de fevereiro, que junto com a Revolução de outubro, constituiu a Revolução Russa.
Mulheres em São Petesburgo entraram em greve naquele dia por “pão e paz”, exigindo o fim da Primeira Guerra Mundial, o fim da escassez de alimentos na Rússia e o fim do czarismo.
O líder revolucionário Leon Trostky escreveu, “23 de fevereiro (8 de março) era o Dia Internacional da Mulher, e reuniões e ações estavam previstas. Mas não imaginávamos que este ‘dia da mulher’ inauguraria a revolução. Apesar das ordens em contrário, os trabalhadores têxteis deixaram seu trabalho em várias fábricas e todos foram para as ruas.”
Sete dias depois, o czar Nicolau II abdicou, e o governo provisório concedeu às mulheres o direito de voto. Após sua adoção oficial na Rússia soviética depois da Revolução de 1917, o feriado foi celebrado predominantemente em países comunistas e pelo movimento comunista em todo o mundo.
A líder comunista Dolores Ibárruri liderou uma marcha feminina em Madri em 1936, na véspera da Guerra Civil Espanhola. Em 1977, a Assembleia Geral das Nações Unidas convidou os estados membros a proclamar o dia 8 de março como o Dia das Nações Unidas pelos direitos das mulheres e pela paz mundial.
Refletir sobre a origem da data 8 de março não implica desvalorizar o significado histórico que este adquiriu. Significa enriquecer a comemoração desse dia com a retomada de seu sentido original, relembrando que mulheres foram trancadas dentro de uma fábrica que foi incendiada e aproximadamente 130 tecelãs morreram carbonizadas, num ato totalmente desumano.
Tudo isso parece um absurdo? Parece! Parece fazer parte do século passado? Sim, mas pouco mudou até então, ainda passamos por situações como essa; estudo feito pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra que 50% das mulheres são demitidas após, aproximadamente, dois anos da licença maternidade; irônico paradoxo vindo de uma sociedade que cobra maternidade das mulheres e, em seguida, desvaloriza a profissional mãe – reduzindo-nos a procriadoras e cuidadoras do lar, ainda hoje.
Ainda sofremos as desigualdades, violências, assédios e muitas mulheres sofrem relacionamentos abusivos. Por isso é tão relevante entender que, além de comemorar, precisamos refletir e discutir essas questões ainda hoje, exaustivamente.
Sim, cansa. Cansa ler sobre isso, cansa ver tudo isso em tantos lugares, mas cansam ainda mais as lutas que as mulheres enfrentam diariamente, cansa ainda mais termos que gritar por causas tão básicas (sim, porque, infelizmente, para sermos ouvidas, ainda precisamos gritar – e corrermos o risco de sermos taxadas de loucas, histéricas).
E, apesar desse esgotamento, ainda é sobre respeito, igualdade, liberdade, sobre luta contra preconceito (racial, sexual, político, cultural, econômico...), sobre lutar para não morrermos apenas por sermos mulheres. Cansa discutir exaustivamente hoje porque foi uma batalha travada silenciosamente dentro de cada mulher durante muitos anos, e que hoje precisa ser ouvida por todos.
Assim, hoje posso entender a plenitude, grandiosidade e peso da frase de Simone Beauvoir - "NINGUÉM NASCE MULHER: TORNA-SE MULHER”.
Para a filósofa, nenhuma mulher nasce ciente do lugar que ocupa na sociedade e muitas morrem sem saber que se pode ocupar todo e qualquer espaço. Seguem se desculpando na maioria das vezes e apresentando um comportamento passivo e não confiante. Atitudes decorrente de pensamentos autodepreciativos enraizados nelas.
Tornei-me mulher com o passar dos anos, já não sei se muitos ou poucos, não posso precisar o momento exato, pois é um processo diário, mas cada vez mais latente. Essa batalha diária deixa marcas que ninguém vê, essa batalha é violenta com mulheres e seus corpos, que não são respeitados (refiro-me às mulheres e também a seus corpos), somos, mais uma vez, diminuídas frente a um simplismo de conceitos machistas, a objetificação do corpo reduzido à erotização, quando ele é mais, é aquele corpo que luta, trabalha, tem historia, pensa, sente, faz, é livre - ou deveria sê-lo.
Vê como são coisas banais? É só sobre ser humano, sobre sermos todos humanos.
Hoje posso deixar aqui a provocação de um corpo expondo uma peça não pelo corpo – que, apesar de estar em segundo plano, é o que grita para muitos – ou todos. Mas esse corpo está literalmente atrás da peça, e é importante como um todo - é ele o responsável pela idealização e concepção dela, ele carrega tudo que aprendi, carrega os braços que amassam a argila, as mãos que modelam... enfim, é um corpo que grita todos os dias por coisas maiores que apenas um corpo.... e que também, claro, é um corpo livre para ser e fazer o que quiser, e isso só cabe a mim.
Sou eu, mulher, profissional, humana.
“Sou grata por ser mulher. Devo ter feito algo grande na outra vida” - Maya Angelou




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